Araçatuba tem dez réus por feminicídio

“Se você não ficar comigo, não ficará com mais ninguém”. A frase consta na denúncia contra o autônomo Claudemir Rosa David, 36 anos, condenado na última quarta-feira (23) a quase nove anos de prisão por tentar matar a ex-companheira, mas é muito repetida nos casos de crimes contra a mulher.

Na semana anterior, o Tribunal do Júri de Araçatuba também condenou o auxiliar geral Diogo Rodrigues Marques da Silva, 25, por ameaçar a companheira dele utilizando uma arma com numeração raspada. Como os crimes foram anteriores a março de 2015, quando foi alterada a legislação, eles não puderam ser denunciados por feminicídio, que eleva a pena máxima de 20 para 30 anos de cadeia.

Apesar de não haver números oficiais com relação a casos de feminicídio registrados pela polícia na região de Araçatuba, o Ministério Público já denunciou vários réus por esse tipo de crime. Somente em Araçatuba, segundo a Promotoria de Justiça, foram oferecidas dez denúncias nesses três anos, sendo duas em 2015, cinco em 2016 e três de janeiro a julho de 2017. Duas vítimas morreram e os outros réus foram denunciados por tentativa de feminicídio.

Autora de três denúncias por feminicídio pela Promotoria de Justiça de Guararapes, a promotora de Justiça Maria Cristiana Lenotti Neira considera que a maioria dos crimes são decorrência do machismo.

“Na verdade, os crimes acontecem independentemente do tamanho da cidade, influenciados por fatores socioculturais, machismo, não aceitação de que a mulher não quer mais o relacionamento. É posse mesmo. O homem vê a mulher como objeto, como propriedade”, comenta. “Em regra, os crimes são brutais, cruéis e os autores assumem, quase como se sentissem orgulho. E na maioria dos casos há histórico de agressões anteriores, com idas e voltas no relacionamento”.

A delegada Maria Salete Cavestré Tondatto, que é titular da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Penápolis e já respondeu pela unidade de Birigui, considera que a legislação referente à violência doméstica contra a mulher é rigorosa. Entretanto, cita que as vítimas precisam querer ser amparadas pela lei. Não se pode deixar que o criminoso saia em pune. A falsa crença de que o homem vai mudar e o “amor bandido” não podem iludir as mulheres que passam a viver relações doentias que se estendem às suas famílias no caso de filhos.

 

Fonte: Folha da Região.

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