Sem trabalhar desde outubro do ano passado, a desempregada Priscila Fontoura de Oliveira dos Santos, 38 anos, já desistiu de procurar um trabalho fixo. Se ela tivesse sido entrevistada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), seria mais uma na estatística dos desalentados, que são os que desistiram de procurar trabalho e, por isso, saíram das estatísticas do desemprego.
Ela tem lúpus, doença autoimune e que a impede de fazer serviços pesados. Sem emprego fixo, ela tem passado os últimos meses fazendo bicos de faxineira, manicure, garçonete e pintora. Em época de campanha política, ela ainda conseguiu bico como cabo eleitoral. O último trabalho fixo dela foi em um restaurante, onde era ajudante e fazia entregas. No entanto, o lúpus a impediu de continuar nesse serviço. “Eu já entreguei currículo em supermercado, restaurante, tudo quanto é lugar, mas ninguém chama nem pra entrevista. E as contas chegam, então preciso fazer bico”, conta.
No último dia 20, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicou estudo que avaliou os microdados extraídos da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua, feita pelo IBGE, relativos ao 2º trimestre de 2018. O IBGE não divulgou dados por município.
Conforme o estudo, as mulheres, parte da população da Região Nordeste, pessoas com baixa escolaridade, jovens adultos (de 18 a 24 anos) e pessoas que não são chefes de família são os grupos sociais que mais desistem de ingressar no mercado de trabalho ou retornar alguma ocupação para ter renda.
De acordo com o IBGE, no período, 4,833 milhões de pessoas desocupadas deixaram de procurar trabalho, 203 mil mais do que no trimestre anterior.
Para o professor e economista Marco Aurélio Barbosa, isso é uma situação crítica do ponto de vista econômico. “É resultado de uma das mais severas recessões de nossa história econômica. A recessão provoca o fechamento de empresas, desemprego, queda da produção, redução da arrecadação do governo, achatamento da massa salarial, e aumenta o desemprego que depois leva ao surgimento do desempregado desalentado”, afirma.
Barbosa acredita que conforme a economia retome seu crescimento, esse contingente de desempregados por desalento recue, com as pessoas retomando a procura por trabalho e sua inserção no mercado.
Fonte: Folha da Região.