Pela primeira vez no Brasil, jogadores se mobilizaram para falar publicamente sobre um tipo de violência comum, porém tratado como tabu no futebol. Em campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo, 33 atletas e ex-profissionais, entre eles Edu Dracena e Moisés (Palmeiras), Rodrigo Caio e Diego Lugano (São Paulo), Felipe (Porto-POR), Cicinho (Brasiliense) e Giovanni, ídolo do Santos na década de noventa, fazem um alerta sobre assédio sexual e abuso sexual de ciranças e adolescentes em categorias de base. Um vídeo com depoimentos dos jogadores e a hashtag#chegadeabuso é o primeiro passo da campanha, que deve se desdobrar em ações preventivas nos clubes ao longo do ano.
Idealizador da campanha, o ex-goleiro Alê Montrimas já revelou ter sido assediado por técnicos, preparadores e dirigentes durante sua carreira. No ano passado, ele ministrou 40 palestras em equipes infantis e escolinhas, alertando garotos sobre as armadilhas que podem encontrar no caminho até se tornarem estrelas da bola. Entende ser importante, nesse momento em que estrelas do cinema e da televisão se expõem ao denunciar abusadores, mostrar que o aliciamento para fins sexuais também é uma rotina na formação de atletas do esporte mais popular do país. “O mundo inteiro está falando sobre assédio e abuso sexual”, afirma Montrimas. “O objetivo da campanha é sensibilizar pessoas que não são do meio. Até porque, quem conhece minimamente o futebol, sabe que a violência sexual contra jovens jogadores é uma realidade.”
Não há dados oficiais sobre casos de abuso sexual no futebol brasileiro. Um levantamento do EL PAÍS com base em processos na Justiça (veja o mapa abaixo) registra pelo menos 111 ocorrências desde 2011. Especialistas em direitos infantojuvenis avaliam que o número seja bem maior, já que no Brasil apenas 7% dos episódios de violência sexual contra crianças e adolescentes são denunciados. Em 2014, às vésperas da Copa do Mundo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) firmou um pacto com a CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em que se comprometia a adotar 10 medidas para evitar abusos sexuais e o tráfico de jovens jogadores em categorias de base e escolinhas. No entanto, quase quatro anos depois da assinatura do acordo pelo então presidente da entidade, José Maria Marin, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados concluiu que a CBF efetivou parcialmente apenas duas medidas sugeridas pela CPI.
Fonte: El Pais.