Repercussão em relação a tema de redação do Enem revela atraso e machismo

No último domingo o Enem trouxe como tema de redação a violência contra as mulheres, que infelizmente ainda se abate sobre o Brasil, tanto que algumas pessoas viram como negativo e não entenderam a importância do tema. Estudantes que provavelmente devem ter zerado a prova, já que não demonstram discernimento chegando  até mesmo a associar o feminismo com esquerdismo. A maioria dos reclamantes de redes sociais são homens desempregados e de classe média-baixa, demonstrando que de fato a falta de incentivo na educação pública básica está mostrando seus efeitos. Segue alguns dados básicos sobre a situação da violência contra a mulher no Brasil:

Gráfico Balanço Ligue 180 relação entre vítima e agressor (SPM-PR)

A casa como o lugar mais inseguro para a mulher

48% das mulheres agredidas declaram que a violência aconteceu em sua própria residência; no caso dos homens, apenas 14% foram agredidos no interior de suas casas (PNAD/IBGE, 2009).

3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos,aponta pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular (nov/2014).

56% dos homens admitem que já cometeram alguma dessas formas de agressão: xingou, empurrou, agrediu com palavras, deu tapa, deu soco, impediu de sair de casa, obrigou a fazer sexo. Saiba mais sobre as “Percepções do Homem sobre a Violência Contra a Mulher” (Data Popular/Instituto Avon 2013).

77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. Em mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. É o que revela o Balanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher , da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Leia mais no Balanço 2014 do Ligue 180.

Pesquisa apoiada pela Campanha Compromisso e Atitude, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, revela 98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha e 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil. Saiba mais: Pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres (Data Popular/Instituto Patrícia Galvão, 2013)

Vários estudos apontam que os custos sociais e econômicos da violência contra as mulheres são enormes e têm efeito cascata em toda a sociedade. As mulheres podem sofrer vários tipos de incapacidade – passageira ou não – para o trabalho, perda de salários, isolamento, falta de participação nas atividades regulares e limitada capacidade de cuidar de si própria, dos filhos e de outros membros da família.

Além dos custos humanos, a violência representa uma imensa carga econômica para as sociedades em termos de produtividade perdida e aumento no uso de serviços sociais. Entre as mulheres pesquisadas em Nagpur, Índia, por exemplo, 13% precisaram largar um trabalho remunerado por causa de abuso, faltando uma média de sete dias úteis por incidente, e 11% não conseguiram desempenhar tarefas domésticas por causa de um incidente de violência.

Embora a violência de gênero não afete constantemente a probabilidade geral de uma mulher de conseguir um emprego, parece que ela influencia no salário da mulher e em sua capacidade de manter um emprego. Um estudo realizado em Chicago, IL, Estados Unidos, concluiu que mulheres com um histórico de violência de gênero tinham maior probabilidade de haver passado por períodos de desemprego, de ter tido grande rotatividade de empregos e de ter sofrido mais problemas físicos e mentais que poderiam afetar seu desempenho no trabalho. Elas também tinham menor renda pessoal e tinham muito mais possibilidade de receber assistência social do que as mulheres que não tinham um histórico de violência de gênero. Da mesma forma, em um estudo realizado em Manágua na Nicarágua, as mulheres que sofreram abuso ganhavam 46% a menos do que as mulheres sem histórico de abuso, mesmo depois de controlar outros fatores que poderiam afetar os rendimentos.

 

A violência contra a mulher está em todas as classes sociais e faixas etárias e para piorar a situação, na semana passada a causa feminina retrocedeu no Brasil com a votação banindo o aborto em casos de estupros e a utilização da pílula do dia seguinte. O Brasil seguindo na contramão de países como Estados Unidos e Portugal por exemplo.
Segue abaixo matéria do G1 mostrando que infelizmente a violência contra a mulher está mais perto do que você imagina, e que feminismo não é frescura e sim lutar pelo respeito e espaço do gênero feminino, a maior parte da população brasileira.

Na adolescência, o espelho era o melhor amigo da moradora de Salto de Pirapora (SP) Renata Rodrigues de Oliveira, 25 anos. Vaidosa, a jovem não saía pelas ruas da cidade sem antes conferir minuciosamente o próprio reflexo. Isso mudou, porém, há quatro anos quando, em 29 de agosto de 2011, um ataque de fúria do então namorado destruiu seu nariz. Em entrevista ao G1, Renata revela como superou a dor física e emocional após a agressão.

 “Ele apertava meu pescoço dizendo que eu estava com outro homem e que arrancaria meus olhos. Comecei a gritar. Entraram no quarto e seguraram ele pelos braços. Foi quando ele se curvou e me mordeu, arrancando parte do meu nariz.” (Veja vídeo do depoimento de Renata ao lado)

Renata Oliveira após ataque do ex-namorado e agora, após cirurgia plástica (Foto: Arquivo Pessoal/Renata Oliveira )

As lembranças do episódio vieram à tona novamente para a jovem devido a polêmica que o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, gerou nas redes sociais.

“Há quem pense que esse assunto não deveria ter sido abordado. Eu discordo. Sei de mulheres que sofrem com esse problema, mas não denunciam, não sabem se defender. Eu fui atrás dos meus direitos. Faria tudo de novo, mesmo se não tivesse ficado com marcas no corpo”, afirma.

A luta de Renata contra o agressor começou logo após a mordida. Ela lembra que o homem se desequilibrou e caiu ao morder seu nariz. Então, ela aproveitou e correu até o banheiro. Desesperada com a quantidade de sangue em seu rosto, a jovem se olhou rapidamente no espelho do cômodo e, chocada com o reflexo, desmaiou. Ao recobrar a consciência, já estava internada na Santa Casa de Misericórdia de Salto do Pirapora (SP), de onde seguiu para o Conjunto Hospitalar de Sorocaba.

Renata conta o estado que o seu nariz ficou não apenas a assustou, mas também os médicos. Durante um ano, ela foi submetida a sessões periódicas de curativos no Hospital Regional, mas após ter sido mal atendida por um profissional da instituição, ela decidiu não voltar mais à unidade.

“Tive que voltar ao hospital meses depois por causa de um problema de saúde da minha mãe. Lá, um dos médicos que havia me conhecido disse que a chefia havia mudado e que agora o líder da equipe era o doutor Gal [Moreira Dini, cirurgião plástico]. Então resolvi tentar uma nova chance.”

Renata passou por inúmeros procedimentos para reconstruir o nariz (Foto: Arquivo Pessoal/Renata Oliveira )

O cirurgião se interessou pelo caso da jovem e começou a prepará-la para o procedimento a fim de recuperar parte do nariz dela. Em um primeiro momento, Dini submeteu o paciente a um expansor nasal interno – introduzido pela orelha – para tentar esticar a pele do nariz e melhorar a cicatrização, mas o procedimento não deu certo. “A pele do nariz é muito fina e acabou não suportando o tubo. A Renata correu sério risco de perder o órgão. Foi um dos casos mais difíceis da minha carreira”, conta Gal.

Durante toda a sua tentativa de recuperação, Renata lembra que o ex-namorado foi sentenciado em 2013 a seis anos e quatro meses de reclusão, além de ter de indenizar a vítima por conta da agressão.

No entanto, após ficar detido por 29 dias, ele foi solto e voltou a morar em Salto de Pirapora e não pagou nenhuma indenização. “Vejo ele passar de carro quase todos os dias em frente ao comércio que abri no bairro. No começo achei que ele iria tentar me matar. Aos poucos, com apoio psicológico, aprendi a conviver com o medo. Hoje consigo dormir sozinha”, afirma a jovem.

Fontes: G1 e Bing.

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