Segundo o boletim de ocorrência, um jovem foi encontrado por volta das 12h de domingo pela PM, após o recebimento de uma denúncia anônima sobre a existência de uma pessoa ferida, com mãos e pés amarrados, às margens de uma estrada do Bairro Jardim Eldorado.
No local, a polícia viu Mateus, de calça e sem camisa, cheio de arranhões pelo corpo e pedaços de galhos secos no lóbulo da orelha esquerda. “Deparamos com o senhor Mateus sentado na beira da estrada bastante abalado psicologicamente”, descreveu a PM no boletim.
No hospital, onde o estudante recebeu os primeiros socorros, a médica plantonista constatou a violência sexual sofrida, informou a polícia. De seu corpo, foram retiradas pedras, apenas um dos meios utilizados pelo agressor no que o jovem qualifica como tortura.
Mateus conta que, enquanto fazia uma caminhada matinal neste domingo, um homem estacionou de caminhonete preta ao seu lado e apontou uma arma para seu rosto. Obrigado a entrar no veículo, o jovem conta ter sido levado para um matagal, onde teve as mãos e os pés amarrados. Paus, arame e pedras teriam sido usados durante o abuso.
“A intenção dele era pegar gente dessa idade, entre 19 e 25 anos, independente de ser homem ou mulher. Ele me disse que essa juventude está corrompida e que, provavelmente, se fosse mulher, a mataria depois”, relatou Mateus sobre o que ouviu do agressor, que ainda o “parabenizou” por ter “salvado” uma mulher.
Após ser abandonado à beira da estrada, Mateus disse ter sofrido outra violência, a da indiferença. Pelo menos 20 pessoas teriam passado por ele e se negado a prestar socorro antes que um mototaxista tivesse se disposto a chamar a polícia. Mesmo assim, o jovem conta ter sido abandonado à própria sorte depois que a PM atendeu o telefonema.
“Eu já estava surpreso e chocado com tamanha crueldade e, quando achei que ia acabar o pesadelo, ele continuou. Andei 15 minutos amarrado e amordaçado e as pessoas não me ajudavam. Eu pensei que iam me bater e um chegou a rir de mim. Eu entendo que as pessoas pensaram que eu fosse assaltante ou drogado, mas foi horrível a omissão de socorro”, desabafou. Ele diz que também teve que lidar com os despreparo dos policiais, que teriam tratado o caso, inicialmente, como um assalto.
Recuperando-se dos ferimentos em casa, Mateus conta estar à base de medicamentos para tentar manter a calma, enquanto aguarda o início das investigações que podem localizar seu agressor. O depoimento na internet, segundo ele, denuncia não só a violência que enfrentou, mas a de muitas mulheres no Brasil.
“O que me motivou a postar foi o que eu senti depois. Eu não tinha sentido. A vida é muito difícil e, quando acontece uma coisa tão absurda quanto essa, você fica sem ter para onde ir. Uma sensação horrível”, disse.
No retorno dos leitores do desabafo, Mateus, que é biólogo, diz ter encontrado esperança. “O que mais me surpreendeu depois da postagem foi que, para cada uma dessas 20 pessoas que não me ajudaram, existe o dobro de comentários positivos e de esperança para mim. Me faz pensar que a sociedade tem sim uma esperança e que existem pessoas boas no mundo”, observou.
Em uma das mensagens postadas para o mineiro, um internauta usou o marcador “a culpa não é da vítima” para manifestar solidariedade.
“Me senti abusada também. Logo você que não merece um pingo disso tudo. Espero que seus amigos o amparem e possam lutar com você para fazer Justiça e tentar, pelo menos, mudar 1% dessa parte nojenta da sociedade. #AculpaNUNCAédavitima.”
“Não foi exposição seu relato e sim um ato solidário de, mesmo estando sofrendo de modo imensurável, relatar o que houve para contribuir com nossa sociedade tão omissa e agressora”, escreveu outra pessoa.
Fonte: G1.