Mulheres ainda ganham menos que os homens e ainda acumulam trabalhos domésticos

As mulheres têm níveis de escolaridade mais altos, fazem mais tarefas domésticas desde pequenas e estão chefiando cada vez mais famílias no Brasil. Mesmo assim, elas continuam sendo desvalorizadas no ambiente de trabalho e ganhando, em média, menos que os homens. É o que mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015, a mais recente e completa, o rendimento médio dos brasileiros era de R$ 1.808, mas a média masculina era mais alta (R$ 2.012), e a feminina, mais baixa (R$ 1.522).

Apesar de a diferença nacional entre os sexos já ser alta (R$ 490), a situação fica ainda mais desigual a depender da região ou estado do país. A maior diferença é encontrada no DF. Os homens ganham, em média, R$ 3.965, contra R$ 2.968 das mulheres – uma diferença de R$ 997.

Já o estado mais próximo é Roraima: R$ 1.684 para os homens e R$ 1.646 para as mulheres, uma diferença de R$ 38. Em nenhum estado, porém, o rendimento médio feminino é mais alto que o masculino.

Segundo Cristiane Soares, pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, questões socioeconômicas devem ser analisadas para entender as diferenças regionais. “Norte e Nordeste têm salários menores e, com isso, a desigualdade é pequena, mas continua sendo desigualdade. Em regiões com salários mais altos e em centros urbanos, que têm maior concentração de empresa, a disparidade aumenta”, diz.

Quanto mais altos os níveis de escolaridade dos trabalhadores, maior é a desigualdade entre os sexos. Independente do tempo de estudo, os homens sempre ganham mais, mas essa diferença começa pequena, de menos de R$ 1 por hora, para trabalhadores com até 4 anos de estudo, e cresce até atingir mais de R$ 13 por hora para pessoas com mais de 12 anos de estudo. Em cargos de gerência, por exemplo, os homens ganham, em média, R$ 5.222. Já as mulheres recebem R$ 3.575.

Segundo Cristiane, a desigualdade de gênero é um dos fatores que explicam essa situação, mas não o único. Entender a inserção no mercado de trabalho é importante. Com pouca escolaridade, segundo a pesquisadora, os trabalhadores de ambos os sexos costumam fazer trabalhos braçais, como os de domésticas e de serventes de obra, existindo uma “afinidade” de ocupações. Pessoas com 12 anos ou mais de estudo, porém, formam um grupo mais complexo.

A juíza titular da 1ª Vara Criminal de Brasília, Ana Cláudia Mendes, observa isso no seu trabalho. Ela é concursada e, por ser servidora pública, recebe o mesmo salário que os colegas magistrados, mas diz que as mulheres são preteridas na escolha para cargos ditos “de confiança”. “No cargo de juiz, a única possibilidade de outras funções seria como assistente de tribunais superiores e, a grande maioria, é, sim, ocupada por homens.”

Ana Cláudia Mendes é juíza da 1ª Vara Criminal de Brasília (Foto: Arquivo pessoal)

Ana Cláudia Mendes é juíza da 1ª Vara Criminal de Brasília (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo a economista e pesquisadora de gênero Tânia Fontenele, coordenadora do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher, os postos de poder, historicamente, são majoritariamente masculinos. “Homens escolhem homens, e fica esse círculo perverso porque muitas organizações discriminam as mulheres porque elas precisam sair para cuidar dos filhos. A culpa é do pai, é do machismo e também de questões culturais”, diz.

Além de ganhar menos, as mulheres ainda sofrem mais com o desemprego. A pesquisa mostra uma taxa de desocupação masculina de 7,7% e feminina de 11,6%. Segundo Cristiane Soares, as mulheres têm inserção de trabalho inferior aos homens, pois sempre foram ligadas a cuidados da casa e dos filhos. Quando o mercado está aquecido, ele busca essas mulheres como uma mão-de-obra a mais, mas, quando há uma crise, o impacto é maior para elas.

E essa ideia de que a cultura de cuidados é uma “área feminina” começa desde cedo. A cada 10 meninas de 10 a 14 anos, 7 cuidam de tarefas domésticas. Já entre os meninos, são apenas 4.

Nem tudo, porém, é má notícia para as mulheres. Entre 2000 e 2010, a frequência escolar feminina no ensino médio aumentou 9,8% em relação à masculina. A Pnad de 2015 também mostra ainda que o nível de escolaridade das mulheres é melhor, com 8,1 anos de estudo, contra 7,7 dos homens. Além disso, 15% das mulheres têm superior completo, contra 11,9% dos homens.

Países que valorizam as mulheres e que tem mais igualdade de gênero, onde as tarefas são dividas em casa e as mulheres ganham igual aos homens não à toa são os melhores países do mundo para viver, como Finlândia, Noruega e Suécia. Se o Brasil quer sair da crise e ter uma sociedade melhor deveria olhar para o exemplo viking e entender que os meninos desde pequenos deveriam fazer atividades domésticas e respeitar o sexo oposto.

Fonte: G1.

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