Empresa contratada pela HBCL alegou “graves problemas” para retirar o aparelho, que teria chegado ao final da vida útil, apesar de ter apenas 6 anos de uso; Secretaria de Saúde sugeriu instalá-lo na Santa Casa de Birigui
Empresa contratada pela BHCL (Beneficência Hospitalar Cesário Lange), OSS (Organização Social de Saúde) que gerencia o pronto-socorro de Birigui (SP), justificou a substituição alegando que chegou ao fim a vida útil do aparelho, que tem apenas seis anos de uso.
O equipamento custou R$ 500 mil, foi adquirido em 2014, com verba de emenda parlamentar do deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP), mas instalado apenas em junho de 2016.
“A remoção do aparelho se deve em razão de o mesmo apresentou graves problemas que comprometeram os atendimentos. Assim, a OSS buscou substituição e uma instalação de um aparelho novo com maior tecnologia e com mais recursos para o município visando assim otimizar o atendimento aos pacientes que passam pelo
PSM”, informa o ofício assinado pelo gestor da BHCL, Rodrigo Machado de Araújo, datado de 12 de maio.
O laudo que teria justificado a desativação do tomógrafo foi emitido em 10 de abril, mas o DRS-2 (Departamento Regional de Saúde) só foi comunicado da substituição do equipamento em 30 de maio, seis dias depois de o Hojemais Araçatuba publicar matéria informando que o equipamento havia sido levado para o prédio do antigo Centro Médico, que não está funcionando.
No início de junho, o ex-vereador José Fermino Grosso, que é assessor do parlamentar, protocolou no Ministério Público em Birigui, pedido para investigar a desativação do tomógrafo. Em 9 de junho, a Promotoria de Justiça deu 15 dias de prazo para a Prefeitura apresentar informações sobre a desativação do equipamento
Apesar de já estar de posse do laudo, em 23 de junho a administração municipal pediu mais 15 dias para passar as informações, alegando que a Diretora de Assistência Jurídica da Saúde estaria afastada com covid-19.
O município argumentou ainda que havia a necessidade de levantamento de documentação e diligências junto à Secretaria de Saúde, o que justificaria a extensão do prazo.
Em 24 de maio, o Hojemais Araçatuba publicou matéria informando sobre a denúncia de que o tomógrafo teria sido substituído por outro alugado e levado para o antigo Centro Médico. Na ocasião, o vereador André Fermino (PSDB) chegou a publicar um vídeo, mostrando o equipamento embalado, em meio a outros objetos.
A reportagem questionou o DRS-2, que informou não ter recebido nenhum comunicado sobre a possível substituição do tomógrafo do pronto-socorro municipal de Birigui. A Prefeitura também foi procurada, mas não respondeu ao e-mail encaminhado com pedido de informações na época.
Segundo o que foi apurado pela reportagem, somente no dia 30 de maio a Secretaria de Saúde de Birigui comunicou o DRS-2 de que tomógrafo que estava no pronto-socorro municipal, proveniente de convênio estadual, havia sido envelopado e devolvido à Pasta, mas não estava em funcionamento.
O ofício foi encaminhado junto com o laudo apontando a suposta deficiência do equipamento para uso em serviço de urgência e emergência. Apesar do suposto fim da vida útil do equipamento, a Secretaria Municipal de Saúde sugeriu que ele fosse cedido à Santa Casa de Birigui.
“Precisamos redefinir a utilização do mesmo em serviços com características eletivas, pensando até se possível e autorizado pela DRS-2, instalá-lo na Santa Casa de Birigui, podendo ser utilizado por nossa microrregião”, consta em documento assinado pela secretária municipal de Saúde, Cassia Rita Santana Celestino.
Tomógrafo passou por manutenção antes de ser desativado
O laudo técnico que justificou a remoção do tomógrafo do pronto-socorro de Birigui foi emitido em 10 de abril, pela empresa Gman Gestão em Saúde, com sede em Santo André, contratada pela BHCL (Beneficência Hospitalar Cesário Lange).
A contratada informa que o equipamento foi vistoriado pela empresa Mundo Service, que seria especializada em manutenções de tomógrafos, que teria apontado dois erros. Um deles seria no armazenamento das informações em disco e o outro a variação muito alta no aquecimento do tubo.
Segundo o laudo, o problema de armazenamento foi resolvido com a substituição do par de HDs, que foi fechado, após cotações, com a empresa LV Neto Transporte, que fez a substituição. O valor gasto não foi informado.
Com relação ao tubo, a empresa contratada informou que a peça alcançou o fim de vida estipulado pelo fabricante. Foi feita cotação diretamente com Canon, fabricante do tomógrafo, que apontou o valor de 39 mil dólares, que seria por volta de R$ 200 mil. Não foi informado se a substituição foi feita.
O laudo aponta ainda que o tomógrafo ficou por longos períodos sem manutenção preventiva, o que teria diminuído a vida útil de alguns componentes. A empresa também justificou que a tecnologia disponível no tomógrafo causa superaquecimento do tubo, necessitando um tempo maior entre os exames (em torno de 30 minutos) para fazer o resfriamento do tubo de raios-X.
Isso causaria filas em momento de grande demanda, sendo que existem equipamentos com tecnologias mais novas que oferecem maior eficiência. “Neste tipo tomógrafo, exames como angiotomografia (para evidenciar características de veias e artérias) são executados com menor resolução, prejudicando o profissional médico na precisão do diagnóstico”, consta no laudo.
Segundo a empresa, a substituição do tubo não garantiria futuros problemas no equipamento. “Conclui-se que mesmo fazendo a substituição do tubo de raios-X, isto não garante que o equipamento apresente outras falhas, que possa a causar novas paradas, pois como relatado no parecer técnico da empresa Mundo Service e observado no dia a dia, o equipamento ficou sem manutenção preventiva por anos e isto acabou causando desgastes prematuros que causarão falhas no decorrer do tempo”, cita o laudo da Gman Gestão em Saúde.
Outra justificativa para substituir o tomógrafo, segundo o laudo, é a dificuldade de encontrar peças genuínas, ficando limitado ao fabricante. “Levando em conta a velocidade da obsolescência da tecnologia, podemos dizer que este equipamento (fabricado em 2008), leva mais tempo para realização protocolos e com uma precisão menor, pois o giro do Gantry é 75%, mais lendo que equipamentos com mais canais”, cita.
Por fim, a empresa justifica que o tomógrafo é considerado um bem depreciável, enquadrado como máquinas e equipamentos, com uma taxa de depreciação de 10%, o que corresponderia a uma vida útil de 10 anos. “Com isto, podemos concluir que este tomógrafo chegou a 140% de sua depreciação” , encerra o laudo.
Apesar de ter sido fabricado em 2008, de acordo com o laudo, o tomógrafo foi instalado no pronto-socorro de Birigui em junho de 2016, ou seja, foi removido com menos de seis anos de uso.
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