Pelo menos 50 pessoas estão acusando uma construtora de imóveis de Birigui (SP) de pegar o dinheiro para a construção de moradias e não concluir as obras. Muitas dessas vítimas já procuraram a polícia, que deve instaurar um inquérito para investigar possível crime.
A reportagem do Hojemais Araçatuba foi procurada pelas vítimas, que criaram um grupo no WhatsApp para tratar de providências em comum. As versões delas são as mesmas, de que assinaram contrato para a construção de casas, pagaram pelo valor combinado, mas o imóvel não foi concluído.
Um dos clientes que procurou a polícia é uma jovem de 25 anos. Ela contou que assinou o contrato em março de 2021, sendo cobrados R$ 36 mil para construção de uma casa financiada pela Caixa Econômica Federal.
O valor total da residência pronta seria de R$ 180 mil, para ser entregue até 1º de junho deste ano. Entretanto, a mulher informou à polícia que desde que o contrato foi assinado com a Caixa e liberado o alvará para o início da construção, nada foi cumprido pela construtora e a casa foi abandonada pela metade.
Em outro caso, um homem de 34 anos contou à polícia que após assinar contrato com a empresa para a construção de uma casa de R$ 153 mil, ele deu uma entrada de R$ 85 mil, com a promessa de que ela seria entregue neste mês de setembro.
A vítima disse à polícia que fez contato direto com o responsável pela construtora, que parecia dar respostas evasivas, prometendo dar prosseguimento à obra em breve. Porém, agora ele não consegue mais contato com o responsável.
A reportagem conversou com uma das vítimas, que disse que ela e o marido conheciam o responsável pela construtora de quando ele ainda era funcionário de uma empresa do ramo. Ela contou que quando ele informou que abriria a própria construtora, o que aconteceu em 2020, o incentivou e no ano passado deu preferência a ele para a construção da casa própria.
Segundo a mulher, a obra teve início em junho do ano passado, com a promessa de ser concluída em 300 dias. Até abril não havia ocorrido nenhum problema, mas depois disso a obra parou. “Os pisos estão lá, ele não colocou calha e a obra está parada. A gente foi questionar e ele alega que passou por dificuldades, mas que vai pagar todo mundo”, informa.
Ainda de acordo com a mulher, ela indicou a construtora para outras pessoas que perguntaram, pois até então não tinha tido nenhum problema. Porém, depois o responsável, quando questionado, alegava que o pedreiro estava com covid-19, com dengue, que os materiais iriam chegar, mas as obras não têm sequência.
Essa vítima também procurou a polícia pela quebra de contrato e informou que combinou o pagamento em cinco vezes. Após pagar as quatro primeiras ela negociou o pagamento da última em 12 vezes, com cheques.
Depois que um dos cheques foi descontado e, vendo que a obra estava parada, ela sustou os demais. O responsável pela construtora a teria procurado e pedido que pagasse outras três parcelas vencidas, para poder retomar a construção.
A mulher então entregou o carro dela ao construtor, que ficou de devolver R$ 11 mil e as demais folhas de cheque. Entretanto, ele não teria pago os R$ 11 mil que faltavam e teria vendido o veículo para uma garagem.
Outro cliente que busca solução para o término da obra conta que também conhecia o responsável pela construtora, que apresentou a proposta para ele. No caso dele, foi financiado o terreno e a construção, pela Caixa.
Ele explica que os pagamentos à construtora pelo banco eram feitos de acordo com a medição da obra. Porém, de acordo com a vítima, para a Caixa, a casa dele está com 80% da obra concluída, apesar de na prática, a obra não ter chegado nem a 50%.
“Faz mais de um ano que a gente está tentando pegar a casa e ele fala que na semana que vem vai terminar, no mês vai terminar, mas não termina nunca. A mesma história ele fala para os outros 50 clientes dele”, diz.
Construtora diz que tenta uma composição com os clientes para realinhamento de preços
De acordo com a construtora, no atual momento econômico alguns itens de material de construção chegaram a triplicar de valor, apesar de os contratos com os clientes terem sido firmados antes desse disparo de preços. Por isso, a empresa ainda não chegou a uma composição para realinhamento de valores.
Os contratos são financiados pela Caixa Econômica Federal, a qual, só libera pagamentos com a confirmação do engenheiro do próprio banco, após a realização e aprovação das medições”, informa a nota.
Ainda segundo a construtora, há alguns contratos que enfrentam problemas e pessoas estão difamando a empresa e seu proprietário, em razão da insatisfação. “Salientamos que isso é passivo de caracterização de crime (calúnia e difamação) e também de responsabilização por danos morais”, consta na nota.
Ao ser informado sobre o registro de boletins de ocorrência por parte de clientes contra a empresa, o Departamento Jurídico da construtora informou que ainda não teve ciência, mas está à inteira disposição da autoridade policial para prestar qualquer esclarecimento necessário.
O delegado responsável pelo caso informou que a polícia está recebendo os boletins de ocorrência para tomar as devidas providências. A orientação é para que todos que se sentiram lesados registrem as ocorrências e apresentem os documentos relacionados, incluindo cópias de transferências de valores, de contratos, de conversas e manifestem o interesse no prosseguimento das investigações.:hoje mais